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Evangélicos progressistas discutem apoio ao governo Lula - POÁ COM ACENTO

publicado em:12/11/22 9:06 PM por: Redação EleiçõesPolítica

Por Sergio Rodrigues

A glória da segunda casa será maior do que a da primeira, diz o Senhor dos exércitos; e neste lugar darei a paz, diz o Senhor dos exércitos! (Ageu, 2:9)

As pastoras Eclésia e Rosa, junto com Ariovaldo Ramos que mediou a mesa de debates e Rosival Molina

“Desdemonização”. Essa palavra chamou a atenção do repórter numa reunião realizada na sede do Partido dos Trabalhadores em São Paulo – um encontro de pastoras e pastores de diversas denominações evangélicas, notadamente de religiosos ligados ao espectro progressista. “Estou aqui porque Jesus é bom e Bolsonaro não presta”, disse o pastor Carlos Lima, de Curitiba, ao se apresentar à plateia presente. Sim, a conversa entabulada na noite foi neste nível, tensa, preocupante e, contudo, esperançosa.

“Levaremos alguns anos para entender em sua complexidade o que aconteceu nestes últimos anos”, vaticinou o pastor Ariovaldo Ramos, um dos expoentes do progressismo evangélico. Ele falava sobre o avanço da ‘idiossincrasia bolsonarista’ sobre os corações e mentes de fiéis protestantes em todo o território nacional.

Pastor Carlos Lima, de Curitiba

Interessante foi observar as indagações de diversos participantes do encontro. No resumo, elas e eles captaram a exata noção do perigo que representou o pleito eleitoral que culminou no último dia 31 de outubro, com a vitória do agora presidente “tri-eleito” Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Se aquela multidão que caminhou exultante em direção à avenida Paulista, para comemorar a vitória de Lula (mais que isso, o triunfo da democracia), imaginasse o que o que se passou nas cabeças e corações das lideranças evangélicas que não foram mesmerizadas pela “mitologização” de Jair Bolsonaro (PL).

O encontro foi organizado pelo pastor Jair Alves, do núcleo evangélico do PT e o pastor Ramon Velasques, ex-vereador e ex-prefeito de Ribeirão Pires. A ideia central do movimento ora iniciado é oferecer uma contribuição para o trabalho de transição de governo, ajudar Lula a pensar o Brasil também através da ótica dos evangélicos progressistas.

Pr. Jair Alves conduziu a reunião

Ao evento foram atraídos líderes de diversos municípios paulistas, do Paraná, Rio de Janeiro, Minas Gerais, como o jurista Rosival Molina, o professor universitário Nelson Xavier, Samuel Jesus, Rosana Figueiredo, Edicléia Generoso, Juscelino Brandão, Adrianinha Alves, Márcia Wu, representante da Câmara de Negócios Brasil-China, Fernando Crespo, Bruno Couto, entre outros.

A mídia evangélica acompanhou com interesse ao movimento dos pastores, através de Adilson Santos, que representou o presidente nacional Orli Rodrigues da Associação Brasileira de Mídias Evangélicas (ABME) e Marcelo Santos, jornalista da Frente de Evangélicos pelo Estado de Direito.

Como mote principal, o grupo ora formado quer fomentar a discussão no meio evangélico e leva-la para o futuro governo Lula, propondo a indicação de um de seus membros – centralizada na figura do pastor Ariovaldo Ramos – para compor a equipe de transição de Lula, coordenada pelo vice-presidente eleito Geraldo Alckmin. “As igrejas evangélicas entram onde o braço do Estado não entra, no âmago das comunidades, aonde reside o verdadeiro sofrimento”, disse a pastora Rosana Lima, de Curitiba.

Pr. e professor Rosival Molina

Houve um consenso de que a vitória de Lula veio em um momento importante. O segmento evangélico vive uma fase emblemática, está em cheque. “Precisamos reverter essa ‘balança estranha’ na qual foi colocado o povo evangélico”, observou outro presente à reunião. É importante, neste contexto, entender o que tornou Jair Bolsonaro tão atraente para os líderes evangélicos conservadores, a ponto de o considerarem como o eleito de Deus.

O que há de complexo na ascensão deste político até antes de 2016-2017 irrelevante, é que Bolsonaro se mostrou inteiramente como Bolsonaro, com ideias conservadoras, de extrema direita, homofóbico, misógino, pregando uma falsa anti-política, mas ainda assim ganhou a adesão majoritária e qualitativa do segmento evangélico. Através de uma trama ardilosa, ele investiu com bastante sucesso num simbolismo típico relacionado ao uso fundamentalista da Bíblia.

Este tipo de estratégia exerce forte efeito nos incautos. Mas, o eu dizer de lideranças da igreja? Bolsonaro apropriou-se da linguagem religiosa dos crentes, como se tivesse uma missão divina cumprir. Observando-se as coisas que aconteceram no transcorrer da eleição de 2022, dispensam o gasto de neurônios com essa parte.

O professor e pastor Nelson Xavier também fez suas ponderações a apontamentos

Ficou patente que os evangélicos, principalmente em São Paulo, não conseguiram se organizar. Se no plano federal o bolsonarismo saiu derrotado, aqui no estado o governador bolsonarista Tarcísio de Freitas e, de quebra, elegeram um outsider, o “Astronauta”, para senador.

Bolsonaro perdeu para Lula em parte porque não soube construir diálogos com o mundo político. Se dependesse do segmento religioso… “Não quero imaginar o que os nossos irmãos ‘do lado de lá’ fariam conosco, se tivessem ganhado a eleição”, disse outro presente. “Como os evangélicos vão sustentar isso? Nossos irmãos estão ensandecidos”, questionou Ramon Velasques.

Sustentar e apoiar o governo Lula. Mas, como fazer?
A intenção não vem, obviamente, sem uma crítica acertada. “Estamos aqui para mudar a realidade política. E não se muda a realidade com blá blá blá! Quando o PT vai reconhecer que existem evangélicos progressistas, que não precisam de interlocutores?”, perguntou o pastor Lima, acentuando que é importante que o segmento tenha um representante na equipe de transição do futuro governo.

Ramon Velasques

A reclamação até faz sentido, no ponto em que houve também um esforço dos religiosos progressistas de diversas denominações para a vitória de Lula e a consequente derrota de Bolsonaro. Daí que, na hora de compor a mesa este grupo não pode ficar de fora. Ali, tem gente com competência para discutir as questões sociais tão caras ao líder petista. Seria como juntar a seriedade de Lula, expressa nos discursos que tem feito, com aquilo que a igreja pode fazer para aplacar a sanha bolsonarista inoculada em seu meio.

O nó górdio desta questão reside no fato de que a classe política anda desconfiada em demasia do evangelismo. Não foram poucas as cenas de fiéis demonstrando ojeriza à candidatura Lula-Alckmin. Não foram poucas as imagens que grassaram de pastores falando horrores do ex-presidente, muitas vezes desejando o pior para ele. A pergunta que pastores progressistas poderiam fazer entre si é: como quebrar as desconfianças dos políticos?

O pastor Ariovaldo Ramos (sentado) como condutor dos trabalhos fez as anotações dos encaminhamentos

Nos últimos quatro anos, líderes evangélicos abusaram das pregações mentirosas, na desconstrução dos políticos de esquerda. Na demonização de Lula e todos aqueles em sua volta, inclusive pessoas respeitáveis como a senadora Simone Tebet, que também disputou a presidência no primeiro turno; como a ex-ministra e evangélica Marina Silva, que chegou a ser ofendida na rua. Sem falar nas imprecações contra o ministro Alexandre de Moraes, presidente do Tribunal Superior Eleitoral e membro da corte suprema do país.

Sim, à desconstrução da política no meio evangélico correspondeu uma demonização no seio da classe. Não foi por acaso que o advogado e pastor Rosival Molina, em sua fala, atentou para a necessidade de “desdemonizar” o segmento. Vão ter trabalho. Uma pesquisa do instituto Datafolha, divulgada no dia 29 de outubro, um dia antes do segundo turno, revelou que 16% dos fiéis evangélicos consultados disseram que pastores orientaram o seu voto em Bolsonaro.

As mulheres tiveram participação efetiva no encontro, entre elas Bernadete Adriana Alves de Lira ‘Adrianinha Alves’

A alienação sob Bolsonaro causou estragos profundos. Passados mais de dez dias do segundo turno, ainda tem gente na rua acreditando que houve fraude na eleição e que Bolsonaro foi roubado. Por esta razão, se faz importante o pleito dos evangélicos progressistas.

O passo fundamental será começar a combater a desinformação trabalhando com informações verdadeiras. Porém, como frisaram algumas falas, a melhor maneira de contribuir é estar “de dentro” do grupo que faz a transição do governo, pois ali são discutidos os aspectos gerais do que o futuro governo.

 

 

Fotos: Adilson Santos / Ângulo Produções

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