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MORADORES E PESQUISADORES ESCREVEM DICIONÁRIO ONLINE SOBRE FAVELAS - POÁ COM ACENTO

publicado em:15/04/19 10:57 AM por: Redação Geral
Isabela Vieira

Um dicionário online com verbetes sobre favelas, escrito por moradores e pesquisadores, está pronto para entrar no ar. Pensado para funcionar como o Wikipedia, que permite a edição online, e coordenado pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), o wikifavela é uma experiência em construção que já reuniu 284 termos, elaborados por 79 colaboradores.

Batizado como Dicionário de Favelas Marielle Franco, em homenagem à vereadora executada há um ano, foi pensado com o objetivo de apresentar o Rio de Janeiro para o Rio de Janeiro e reunir diferentes pontos de vista sobre um mesmo tema.

“A cidade do Rio jamais será uma cidade culturalmente integrada e democrática se continuar ignorando o lado que está ao lado, como se não existisse”, critica a coordenadora da iniciativa, a socióloga e cientista política Sônia Fleury. Segundo ela, o dicionário é uma forma de compartilhar e difundir conhecimento adquirido em estudos de campo, além de abrir portas para o registro da história das comunidades, passadas geralmente de geração para geração. “Essa é uma oportunidade de as pessoas conhecerem as favelas pelos olhos daqueles que vivenciam e estudam aquela realidade riquíssima, aliás. É ali que surgem as modas, as danças, a cultura, que depois vão para a zona sul”.

Verbetes
Quem acessar o dicionário vai se deparar com verbetes sobre baile funk, rolezinho, turismo em favela, lan house e mutirão da laje. E também com iniciativas com menos visibilidade, como o do movimento artístico Poesia de Esquina, o Museu da Maré, a história da Cruzada São Sebastião, o teatro contra a intolerância, as iniciativas de comunicação popular e muito mais.

Há também surpresas para aqueles que acham que conhecem uma comunidade, mas podem estar errando feio. “A imprensa, por exemplo, fica chamando de Dona Marta a favela Santa Marta (a primeira a receber uma Unidade de Polícia Pacificadora), e isso incomoda os moradores”, disse Sônia Fleury. “O desconhecimento mostra desprezo com a história da comunidade”, completa Fleury. O wikifavela explica que o morro se chama Dona Marta e a favela Santa Marta.

Muitas vezes, complementados com imagens, os verbetes têm mais de uma versão. É o caso de milícias. Um deles é assinado pelo sociólogo e cientista social Marcelo Burgos, um dos primeiros investigadores do fenômeno na favela Rio das Pedras, na capital fluminense, que começou com ex-policiais e bombeiros cobrando por serviços de segurança, e hoje administra uma série de negócios ilegais.

O outro verbete é de autoria do professor da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro e sociólogo José Cláudio de Souza Alves. Ele comenta a existência dos grupos paramilitares sob ótica do fenômeno na Baixada Fluminense, onde estão relacionados a grupos de extermínio.

A vereadora Marielle Franco, além de batizar o dicionário, assina um dos verbetes sobre as unidades de polícia pacificadora. Marielle narra como as UPP se tornaram uma “política de repressão e controle dos pobres”, tema que abordou na dissertação de mestrado apresentada em 2014, na Universidade Federal Fluminense (UFF) e que virou livro. Na conclusão, ela destaca que as UPP deveriam ter sido “unidades de políticas públicas”, mas o que se viu foi o uso do discurso de paz para “centralizar o controle de vidas pelo Estado nas mãos das polícias”.

Há verbetes ainda para Mães Vítimas de Violência Estatal, para as chacinas da Candelária, de Acari, de Vigário Geral e do Borel, militarização e religiosidade nas comunidades.

Cadastro
Qualquer pessoa pode se cadastrar na wikifavela, acrescentar verbetes e explicações para cada um deles, contanto que se inscreva na plataforma e que a proposta esteja relacionada ao universo das favelas. O conteúdo é submetido a um conselho editorial formado por instituições de pesquisa e movimentos sociais, coordenado pela Fiocruz, com objetivo de deixar o texto claro.

O próximo passo é organizar o acervo de memória das favelas. “Há uma demanda muito grande para tornar esses acervos públicos. Têm fitas gravadas com os primeiros moradores a ponto de se perder, recortes de jornais sobre remoções, no caso de Cidade de Deus (formada a partir de outras favelas), tudo. Muitas vezes, as pessoas guardam precariamente e, agora, queremos pensar formas de guardar e disponibilizar esse material”, disse Sônia.

Fonte: AB/Divulgação/ONG Viva Rio




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