Por Adilson Santos

POÁ COM ACENTO – A pergunta que ecoa em nossos pensamentos é direta: para onde foram os moradores em situação de rua que antes se aglomeravam no centro paulistano? Se para alguns a Cracolândia “acabou” ou apenas mudou de lugar, a dúvida persiste: para onde foram? Para municípios da Grande São Paulo — entre eles, os da região do Alto Tietê — o problema apenas mudou de CEP.

Na manhã desta terça-feira a grande imprensa de São Paulo em algumas reportagens da Rua dos Protestantes, na região da Santa Ifigênia, mostravam um cenário raro: o “fluxo” de usuários de drogas simplesmente desapareceu. O esvaziamento foi comemorado por autoridades paulistanas como um avanço nas ações conjuntas entre forças de segurança e assistência social. O vice-prefeito de São Paulo, Coronel Mello Araújo (PL), chegou a afirmar que “estamos vencendo essa guerra”.

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Mas será mesmo uma vitória? Ou apenas uma migração forçada?

O problema foi transferido – e chegou por aqui
Dados recentes divulgados pela TV Diário mostram que, somente neste ano, 298 pessoas em situação de rua foram atendidas em Poá — um número superior ao registrado em cidades maiores como Mogi das Cruzes, que teve 237 atendimentos. O secretário de Assistência Social de Poá, Wellington Alves Teixeira, afirmou que muitos desses indivíduos são egressos da justiça e provenientes da capital paulista, empurrados pelas políticas adotadas em São Paulo.

“Eles estão vindo para cá, se espalhando pelo Alto Tietê, especialmente para Poá, que é uma cidade menor e, infelizmente, ainda tem poucas estruturas para lidar com a complexidade dessa realidade”, detectou nossa mídia.

A situação se repete em outras cidades da região em atendimentos só neste ano de 2025:

115 atendidos em Suzano

70 em Ferraz de Vasconcelos

29 em Arujá

21 em Santa Isabel

8 em Guararema

7 em Salesópolis

4 em Biritiba Mirim

Itaquaquecetuba não divulgou os dados oficiais

Cracolândia não acabou – foi pulverizada
Especialistas e ONGs como a Craco Resiste alertam que o esvaziamento do “fluxo” na Cracolândia não significa o fim do problema. Trata-se de uma dispersão, não de uma solução.

Segundo a entidade, houve aumento da truculência por parte da Guarda Civil Metropolitana nas abordagens, com relatos de violência física e apropriação indevida de pertences pessoais dos usuários. “Eles estão sendo empurrados para fora da cidade. Sem acesso a serviços de saúde, sem encaminhamento digno, sem alternativas reais de acolhimento”, afirmou um dos membros da ONG.

A repressão em pontos como a Favela do Moinho, com a prisão de traficantes e desmonte de estruturas ligadas ao tráfico, também contribuiu para a migração. A oferta de drogas na região central foi reduzida, mas isso não significa que a dependência foi tratada – apenas que mudou de lugar.

E Poá, está preparada?
A crescente presença de pessoas em situação de rua – muitas com problemas de saúde mental, dependência química ou histórico criminal – exige muito mais que repressão: exige políticas públicas efetivas, orçamento, planejamento e principalmente acolhimento humano.

O desafio de Poá e das demais cidades do Alto Tietê agora é encontrar formas de lidar com essa nova realidade, que antes parecia distante dos nossos trilhos e vielas. O que São Paulo “limpou”, nós recebemos — sem consulta, sem preparo, sem estrutura.

A pergunta que fica é: qual será a resposta da nossa cidade?

Foto: Adilson Santos

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