Carta aberta ao secretário Municipal de Cultura de Poá Senhor Ariel Borges secretário - POÁ COM ACENTO
Por Gisele Magalhães
Desde a emancipação de Poá há 74 anos, a Cultura e os artistas de nossa cidade sofrem com a displicência (verdadeiro desídio) dos inúmeros governos que passaram.
Embora seja histórica a luta dos nossos artistas por espaço e por sobrevivência, embora nosso município ainda ostente o título de estância, embora nossa tradicionalíssima Festa das Orquídeas e Plantas Ornamentais integre o calendário nacional da Embratur, embora tenhamos o maior espetáculo a céu aberto do Alto Tietê e um dos poucos eventos da região que integra o calendário estadual (Passos da Paixão) ainda sofremos com o desinteresse institucional pelo setor.
Talvez, isso seja resultado das más escolhas ao elegermos governantes descomprometidos com a Cultura e com a construção de uma identidade para a cidade, em reconhecer esta identidade. O que, por exemplo, agora representa o risco de perder o título de estância hidromineral e pior, a longo prazo, ver secar nossas fontes de água que já foram motivo de orgulho para o nosso povo.
O senhor pode pensar ser exagero, mas afirmo que este é o caminho que estamos trilhando a passos largos apesar dos inúmeros avisos de munícipes e das autoridades sobre o assunto.
Nós, os artistas poaenses aprendemos a existir apesar da Secretaria de Cultura. Nesta luta pela existência, uma grande parte de nós não criou vínculos entre a prática artística e a cidade em que moramos.
Recentemente, participei da entrega de homenagem a um músico onde, depois da cerimônia, sua mãe me confidenciou que, embora orgulhosa do filho, melhor que a honraria seria se ele tivesse espaços para se apresentar na cidade.
Isto é triste, revoltante e grave! Poá concede homenagem aos seus artistas mas não cria políticas públicas de Cultura que fomentem a sua Arte.
Estamos muito distantes do que podemos chamar de ideal. Eu diria até que estamos distantes do que eu chamaria de aceitável.
No entanto, nossos gestores públicos teimam em nomear seu estafe a partir de acordos e arranjos políticos. Isto não cabe mais na Cultura.
Passamos por mudanças ao longo das últimas décadas que exigem cada vez mais a qualificação dos agentes culturais. Agentes qualificados são fundamentais, qualificar novos agentes, além de fundamental, é urgente.
O que mais me entristece enquanto artista e munícipe é que hoje somos muito menos do que já fomos um dia e isto se deve a uma política de descontinuidade.
Felizmente, o ataque contínuo à Cultura e o desmonte público do setor praticados no país durante os últimos anos findaram-se após o resultado das eleições gerais de outubro último. O status da Cultura no Brasil mudou.
O Ministério da Cultura foi refundado e nomearam ministra uma mulher preta, que simboliza a força e a coragem necessárias para o renascimento da Cultura no país.
É perceptível o esforço por parte do novo governo a intenção de dar protagonismo à Cultura, implementando boas políticas e grandes investimentos públicos no setor.
Os Estados e municípios brasileiros terão acesso a recursos que fomentarão uma diversidade de políticas culturais, além da implementação do Sistema Nacional de Cultura.
A partir deste panorama, pergunto ao senhor secretário, como é possível um município acessar estes recursos, quando sabemos que para tal é preciso equipe técnica qualificada?
Enquanto agente cultural e representante do setor no Conselho Municipal de Políticas Culturais eu não escondo minha insatisfação com a atual gestão da secretaria. Aproveito para reafirmar aqui as críticas que fiz durante todo este período.
É nítida na minha memória, assim como na memória de muitos companheiros, a história do “UBER” e tantas outras.
Me senti profundamente desrespeitada toda vez que ouvi “sem ônus para o poder público” frase que, ao meu ver, só reafirma o tamanho do descompromisso desta secretaria com o setor cultural, a quem, na verdade, ela deveria defender.
No mais, o senhor na figura de secretário é o interlocutor entre a Cultura poaense e o poder executivo, o mínimo que esperamos do senhor é respeito com as pessoas que a constroem.
Peço que o senhor reflita e tenha a humildade para reconhecer sua falta de propósito e empenho na defesa de sua secretaria. São deficitárias, quase inexistentes, as ações que viabilizem espaços e ações culturais na cidade. E quando acontece alguma ação, estas são tão pessimamente divulgadas que parecem não querer público.
É lastimável a péssima gestão dos recursos da Cultura em Poá. Os artistas, produtores e técnicos não querem favores, nem cargos. O que queremos são ações que nos permitam trabalhar.
É inaceitável que 70% do nosso orçamento seja para custear a folha de pagamento da secretaria e que mesmo com a falta evidente de recursos humanos ainda se tenha 03 funcionários da Cultura alocados em outras secretarias e que tem seus salários pagos nesta.
É inaceitável os editais de chamamento público que entregam nossas riquezas a troco de nada, de contrapartidas irrisórias! Como o senhor secretário não pensou no fundo municipal de Cultura e entrega nosso teatro que nos custou 18 milhões a apenas 60 ingressos ? Sem nenhuma garantia aos munícipes, aos agentes culturais, aos artesãos, aos comerciantes? Como?
Me pergunto também como está se preparando para a quarta Conferência Nacional de Cultura uma vez que ignorou a do próprio município?
Ressalto também a importância que deveria ter a participação social junto ao setor público e que esta participação é obrigatória para recebermos alguns recursos já previstos.
Ou seja, também, corremos riscos de perder verbas que custeiam a Cultura. Se unificarmos os recursos das leis Paulo Gustavo e Adir Blanc, só em 2023, podemos deixar de receber quase R$ 2 milhões. Ou ainda, tornar este recurso histórico algo sem tanto valor e que não agregue nada ao município. Já vimos isto acontecer: recursos mal utilizados.
Quais heranças temos do tão falado “recursos do Itaú”?
Recomendo ao senhor que se alinhe mais ao nosso Conselho Municipal de Políticas Culturais, do qual faz parte. O Conselho está ativo, apesar de ter sido sua escolha não indicar o único conselheiro do setor público com real conhecimento sobre o setor cultural.
Ainda temos trabalhado bastante, até mesmo dando suporte técnico e estratégico para municípios vizinhos .
Peço que o senhor reconheça os erros cometidos até aqui e que modifique a forma como tem gerido sua secretaria.
Podemos reescrever a história da nossa cidade com o setor Cultural. Acolha os poucos agentes culturais que se envolvem nas ações do setor, eles ainda o reconhecem como secretário e tenho certeza que estão dispostos a contribuir.
Seja mais presente. Se faça presente. A história o fez nosso secretário de Cultura neste momento decisivo para o setor no país. Aproveite esta oportunidade e faça a diferença.
Encerro esta carta com frase inspirada pela filosofia de Imannuel Kant:
“Saber ouvir é salutar!”
Giselle Magalhães @gimagalhaes_labirintos
Nota da Redação
Solicitamos o manifesto do Secretário de Cultura sobre o assunto em tela.
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