Por Gusttavo Gomes

Com o PL fortalecido, Valdemar Costa Neto pode alcançar sua maior votação em 2026.

Aos 77 anos, Valdemar Costa Neto — ou simplesmente “Boy”, apelido conquistado pelo estilo de vida nos anos 1970 — pode voltar a disputar uma cadeira no Congresso Nacional nas eleições de 2026. Atual presidente do PL e um dos mais experientes articuladores do Centrão, Valdemar pode transformar sua sétima candidatura à Câmara dos Deputados na mais expressiva de sua trajetória, superando as votações das seis eleições anteriores.

Com Eduardo Bolsonaro nos Estados Unidos e cotado para disputar o Senado por São Paulo, além da cassação do mandato de Carla Zambelli devido aos acontecimentos na véspera da eleição de 2022, Valdemar pode se tornar o nome mais forte do PL no estado, consagrando seu retorno ao Congresso Nacional.

Quem é Valdemar Costa Neto, o Boy de Mogi?
Natural de Mogi das Cruzes, Valdemar Costa Neto iniciou sua trajetória política ao lado do pai, Waldemar Costa Filho, que foi prefeito da cidade por quatro mandatos e aliado de Paulo Maluf durante a era da Arena. Ainda jovem, Valdemar foi chefe de gabinete do pai, assumiu a Secretaria de Obras, presidiu a Companhia de Desenvolvimento local e foi diretor do Porto de Santos, consolidando uma carreira de administrador público marcada por articulação política e influência em grandes contratos e obras.

Sua estreia nas urnas como deputado federal pelo PL, em 1990, foi o início de uma sequência impressionante: seis mandatos consecutivos, sempre com votações expressivas. Ao longo da carreira, Valdemar foi protagonista de episódios marcantes — como o famoso “escândalo do Sambódromo”, ao lado de Itamar Franco e Lilian Ramos — e de decisões históricas, como o voto pelo impeachment de Collor e a articulação para José Alencar ser vice de Lula em 2002.

No auge do poder, Valdemar comandou a distribuição de verbas e cargos no Ministério dos Transportes, ampliando sua rede de prefeitos e empreiteiras aliadas. O escândalo do mensalão, porém, marcou uma reviravolta: renúncia ao mandato, condenação por corrupção e lavagem de dinheiro, prisão e nova renúncia em 2013. Mesmo assim, Valdemar manteve — e até ampliou — o controle do partido, agora rebatizado como PL, e preparou seu retorno aos holofotes.

O “dono” do PL e a aliança bolsonarista
No partido desde sua primeira candidatura e presidente nacional desde 2000, Valdemar Costa Neto sempre atuou nos bastidores, decidindo cargos e articulações. Em 2021, deu um passo decisivo ao filiar Jair Bolsonaro ao PL, tornando a legenda a maior bancada da Câmara. O PL recebeu quase R$ 90 milhões do Fundo Eleitoral e se consolidou como a principal casa do bolsonarismo. Mesmo com atritos públicos, Valdemar e Bolsonaro mantêm uma relação pragmática, cada um buscando ampliar poder, cargos e votos.

Se Bolsonaro ainda é o grande nome da direita nas ruas, Valdemar é quem controla candidaturas, alianças e o destino de milhões em recursos eleitorais. Essa máquina partidária estará a serviço de sua campanha, caso ele confirme a candidatura em 2026.

A ausência dos superpuxadores e o novo cenário eleitoral
O cenário para 2026 aponta para a ausência de figuras como Eduardo Bolsonaro, deputado federal mais votado do PL em 2022, e de Carla Zambelli, que enfrenta cassação. Esse vácuo no topo da chapa federal paulista abre espaço para uma reorganização do voto bolsonarista, hoje órfão de lideranças personalistas. Valdemar Costa Neto surge como o nome capaz de reunir esse eleitorado disperso, graças ao comando nacional do partido, à estrutura partidária e ao provável endosso do próprio Bolsonaro.

Sem esses grandes puxadores, o eleitor bolsonarista buscará nomes que representem continuidade e força. Valdemar, apesar do perfil mais discreto e menos midiático, oferece exatamente isso: é o “homem do sistema” no bolsonarismo, a ponte entre a máquina partidária e o discurso da ordem.

O potencial eleitoral de Valdemar Costa Neto em 2026
Valdemar já superou a marca de 170 mil votos mesmo após o mensalão. Agora, com a ausência dos principais concorrentes e possível apoio direto de Bolsonaro, é plausível que ultrapasse 200 mil votos em 2026, tornando-se um dos deputados federais mais votados do Brasil. Sua força está nas bases fiéis do PL, especialmente em Mogi das Cruzes e no interior paulista, e no apoio de prefeitos e vereadores beneficiados por emendas. A vitória de Mara Bertaiolli (PL) na eleição municipal de 2024, com 51,08% dos votos válidos, consolidou ainda mais o domínio do partido em Mogi das Cruzes e ampliou a influência de Valdemar na região, criando um ambiente político favorável para sua candidatura

Por outro lado, seu histórico de escândalos, condenações e investigações pode ser explorado por adversários. Além disso, setores mais ideológicos do bolsonarismo podem hesitar em apoiar um articulador visto como símbolo da “velha política”. O desafio será convencer o eleitorado de São Paulo a valorizar sua experiência e capacidade de articulação, em vez de buscar renovação.

O último ato do Boy de Mogi?
Valdemar Costa Neto pode estar prestes a protagonizar seu maior retorno — e talvez seu último ato eleitoral. Ao transformar o controle partidário em capital de votos, ele terá a resposta para a pergunta que ronda os bastidores de Brasília e de Mogi das Cruzes: quantos votos terá o Boy de Mogi em 2026?

Se depender da máquina partidária, do espólio bolsonarista e da articulação nos corredores do poder, a votação pode ser histórica. Mas, como sempre, o veredito final caberá ao eleitor paulista.

Fonte: Gusttavo Gomes / Fotos: Redes Sociais

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