Era uma vez uma cidadezinha que trocou de prefeito. Como acontece em toda nova gestão, os ares mudaram, os discursos ganharam um tom esperançoso, e os puxa-sacos saíram dos buracos como formigas depois da chuva.

No meio dessa nova ordem política, destacava-se Dona Zuleide, uma senhora que, dizem, já havia puxado tanto saco em administrações passadas que devia ter desenvolvido tendinite nos braços. Desta vez, porém, ela não estava sozinha: arrastava consigo os dois filhos, uma moça e um rapaz que pareciam ter saído de uma peça de teatro mambembe, sempre dispostos a aplaudir o prefeito e seus secretários em qualquer ocasião – fosse em inauguração de lombada ou na entrega de uma placa de “proibido estacionar”.

Dona Zuleide se fazia de louca. Não se sabe se por estratégia ou vocação, mas a verdade é que ela transitava pelos corredores da prefeitura, secretarias e eventos falando alto, elogiando a esposa do prefeito como se fosse uma rainha e descrevendo o secretário de governo como “um gênio incompreendido”. O prefeito, homem calejado na política, rindo pelos cantos da boca, fingia não ouvir, mas sabia que ela estava ali, sempre rondando, esperando um cargo cair no colo como fruta madura.

E ela não disfarçava. Ao contrário, fazia questão de deixar claro seu objetivo:

— Prefeito, uma gestão moderna precisa de gente de confiança! Gente que veste a camisa! O senhor sabe que pode contar comigo e com meus filhos. Três cargos, três servidores leais!

O prefeito sorria amarelo. A esposa dele lançava olhares fulminantes, e os secretários se entreolhavam, tentando segurar o riso. Mas Dona Zuleide não desistia. Num evento oficial, enquanto o prefeito discursava sobre transparência e meritocracia, ela e os filhos batiam palmas e gritavam “bravo!”, faziam questão de sair nas fotos, vídeos, e nas redes sociais do alcaide, como se estivessem num concerto da filarmônica de Viena.

Dois meses se passaram, e, embora a cidade tivesse problemas urgentes, como ruas esburacadas e um hospital faltando cadeira de rodas, lá estava Dona Zuleide, incansável, tentando encaixar os filhos em qualquer departamento.

Mas, até agora, nada. Nenhum cargo, nenhuma vaguinha, nem um estágio para os filhos. Ainda assim, ela segue firme: bajulando, aparecendo em todos os eventos da prefeitura e garantindo que, pelo menos na arte de estar sempre por perto, ninguém consiga superá-la.

Porque, em política, puxa-sacos nunca saem de moda.

Imagem: Internet

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