Clara Carvalho dirige Hedda Gabler que traz a modernidade de Ibsen em estreia no Auditório do MASP - POÁ COM ACENTO
Por Adriana Balsanelli / Renato Fernandes
A tragicomédia foi escrita em 1890 e traz uma das personagens femininas mais enigmáticas e desconcertantes do autor. Hedda encarna o profundo mal-estar existencial da mulher do final do século XIX e de sua busca por um lugar dentro da opressiva sociedade patriarcal. A montagem contará com trilha sonora ao vivo de Greg Slivar e é a terceira incursão de Clara Carvalho em Ibsen pelos palcos, a primeira como diretora
O dramaturgo norueguês Henrik Ibsen (1828-1906) foi criador de uma galeria marcante de personagens femininas que exprimiam o profundo mal-estar e a opressão das mulheres na sociedade de seu tempo. Hedda Gabler absorve toda essa atmosfera e estreia no dia 28 de junho, sexta-feira, às 20h, no Auditório do MASP. A montagem é idealizada pela pesquisadora Rosalie Rahal Haddad e realizada pelo Círculo de Atores e SM Arte Cultura.
A tradução e direção é de Clara Carvalho, que ganhou o Grande Prêmio da Crítica da Associação Paulista de Críticos de Arte (APCA) por seu trabalho em 2023 como atriz, tradutora e diretora no teatro. O elenco é formado por Karen Coelho, Guilherme Gorski, Carlos de Niggro, Chris Couto, Nábia Villela, Mariana Leme e Sergio Mastropasqua.
A tragicomédia foi escrita em 1890 e conta a história da enigmática, voluntariosa e fascinante Hedda Gabler, que na volta de sua lua-de-mel, descobre que não vai suportar viver o que considera uma vida medíocre junto a seu marido, Jorge Tesman.
De acordo com Clara, a personagem interpretada por Karen Coelho não consegue descobrir sua vocação e não exerce uma profissão que lhe dê alguma autonomia econômica. Dotada de um sarcasmo impiedoso, ela tenta desastradamente manipular o jogo patriarcal, mas diante de uma vida sem nenhum prazer, se vê encurralada.
“Filha única de um militar que lhe deixou de herança apenas um piano, um quadro, duas pistolas e a arrogância, Hedda casa-se sem amor com um homem que não admira e cria para si mesma uma armadilha sem saída. Ela é convencional demais para bater a porta e sair do casamento (como Nora, de Casa de Bonecas) ou aceitar o triângulo amoroso proposto pelo Juiz Brack, por considerar o adultério uma condição vulgar; mas também é inquieta: rejeita sua gravidez e não suporta a vida conjugal com um homem que considera medíocre”, ressalta.
A peça se passa em Cristiânia (atualmente Oslo, capital da Noruega) no final do século 19, todavia ganha contornos contemporâneos por meio de cenário de Chris Aizner e figurinos de Marichilene Artisevskis. A cenografia conta com um ambiente despojado com a fachada de uma casa burguesa da época, cercada por um jardim. Todos os atores ficam em cena com poucos elementos cênicos. A trilha sonora, de Gregory Slivar, é executada ao vivo com instrumentos como piano, teclado, violoncelo, entre outros. Inclusive, a atriz Nábia Villela utiliza o canto em cena. Para a tradução, foram utilizadas uma versão em inglês de William Archer, e uma em francês do Conde Prozor. E algumas notas e dúvidas da dramaturgia também foram pesquisadas no norueguês.
O projeto dá sequência às montagens de A Profissão da Sra. Warren (2018) e de O Dilema do Médico (2023), ambas de Bernard Shaw, dramaturgo irlandês que foi quem, juntamente com o dramaturgo e crítico William Archer, publicou e introduziu a obra de Ibsen na Inglaterra. Rosalie Rahal Haddad, Clara Carvalho, Círculo de Atores e SM Arte Cultura mantém a parceria que foi frutífera nas produções anteriores. Nestes espetáculos, uma das constantes foi a presença de figuras femininas marcantes, característica também presente no texto do dramaturgo norueguês.
IBSEN, MODERNIDADE AS FIGURAS FEMININAS
Essa é a terceira incursão de Clara Carvalho em Ibsen pelos palcos, a primeira como diretora. Suas experiências anteriores foram como atriz em Espectros (2011) com direção de Francisco Medeiros; e Um Inimigo do Povo (2022), de José Fernando Peixoto de Azevedo.
“Ibsen foi o fundador do drama moderno. Foi ele quem estabeleceu a peça realista em prosa e fez do teatro um fórum de debates de assuntos polêmicos como a condição da mulher na sociedade, a corrupção, reformas políticas e a eutanásia. Ele expandiu os limites da “peça bem-feita” da tradição francesa, rompeu com clichês do melodrama e das tramas de simples entretenimento. Ele se dizia mais um arquiteto do que um dramaturgo, porque suas peças apresentavam e explodiam a casa burguesa da segunda metade do século 19; seus títulos recorrentemente remetiam a construções: Os Pilares da Sociedade, Casa de Bonecas, Solness, o Construtor, Rosmersholm, apresentam construções aparentemente sólidas que vão sendo, ato a ato, demolidas”, enfatiza a diretora.
Hedda Gabler é uma das personagens emblemáticas do autor. Figuras como Nora Helmer (Casa de Bonecas), Rebeca West (Rosmersholm), Hilda Wangel (Solness, o Construtor) , Ellida Wangel (A Dama do Mar) e Thea Elvsted (Hedda Gabler), por exemplo, têm a coragem de romper amarras. Mas, dentre todas elas, Hedda Gabler talvez seja a mais enigmática e desconcertante.
“A Hedda está emparedada e encarna a profunda solidão feminina. Ela é uma mistura de Iago, personagem de Otelo de Shakespeare, na maldade e manipulação; e de Cleópatra, pois ela ama a beleza e o espetáculo, ela não quer a vida medíocre. O próprio Sigmund Freud, que era um profundo admirador de Ibsen, se inspirou em algumas das personagens femininas do dramaturgo que mergulhou no inconsciente feminino, para escrever estudos sobre o desejo e a frustração. Aquela Noruega provinciana foi um dos primeiros países a adotar o sufrágio feminino, em 1913, e vai se tornar um local pioneiro em conquistas sociais. Ibsen estava dialogando com todo esse universo”, finaliza Clara.
Ficha Técnica:
Texto: Henrik Ibsen. Produção: Rosalie Rahal Haddad.
Tradução e Direção: Clara Carvalho.
Assistentes de Direção: Mariana Muniz e Thiago Ledier.
Elenco: Karen Coelho, Guilherme Gorski, Carlos de Niggro, Chris Couto, Nábia Villela, Mariana Leme e Sergio Mastropasqua.
Trilha Original e Música ao Vivo: Gregory Slivar.
Cenários: Chris Aizner.
Figurinos: Marichilene Artisevskis.
Costureira: Judite Lima.
Cenotecnia: Alicio Silva.
Produção De Objetos: Jorge Luiz Alves.
Luz: Nicolas Caratori.
Operação de Luz: Luisa Silva.
Preparação Vocal: Babaya Morais.
Direção Técnica e Operação de Som: Valdilho Oliveira.
Fotografia: Ronaldo Gutierrez.
Visagismo: Marcos Padilha.
Maquiagem: Ale Toledo.
Design Gráfico: Rafael Oliveira.
Registro e edição da montagem: Ícarus Filmes.
Produção: SM Arte e Cultura.
Direção de Produção: Selene Marinho.
Coordenação de Produção: Sergio Mastropasqua.
Produção Executiva: André Roman/Teatro de Jardim.
Direção de Palco: Henrique Pina. ,
Contrarregra: André di Peroli.
Camareira: Elisa Galdino.
Assessoria de Imprensa: Adriana Balsanelli e Renato Fernandes.
Gerenciamento de Mídias Sociais: Sergio Mastropasqua, Selene Marinho e Luisa Silva.
Registro em vídeo: Ícarus Filmes.
Realização: Círculo de Atores.
SERVIÇO:
HEDDA GABLER
Estreia 28 de junho, sexta-feira, às 20h, no Auditório do MASP.
Temporada: De 28 de junho a 25 de agosto. Sextas e sábados, às 20h e domingos, às 18h.
Classificação: 14 anos. Duração: 110 minutos.
Fotos: Ronaldo Gutierrez
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