PRECONCEITO: IGNORÂNCIA, PREPOTÊNCIA E COVARDIA - POÁ COM ACENTO
Ivam Galvão
Etimologicamente, preconceito vem do latim “ praeconceptus”. Significa pré julgamento, e tem sempre uma conotação negativa e, de alguma forma agressiva a respeito de algo ou alguém apoiada no pensamento estereotipado. Enquanto o pré julgamento permanece em nível mental, estamos no âmbito do pre-juízo individual, sem questionamentos levianos, no sítio de uma moral imposta como pressuposta verdade e que não passa pelo crivo da consciência. Posto em ação o preconceito envereda por um campo minado ilegal: o da discriminação.
Existem pessoas que imaginam estar livres de preconceitos. Postura ingênua ou no mínimo pretensiosa.
Aético o preconceito não pensa, é preguiçoso e covarde, não se dá ao trabalho nem de se arriscar; antiética a discriminação age pesadamente, é pedante e atrevida,violenta e irresponsável.
Discriminar é segregar, separar, excluir, fruto do preconceito cujas perversas consequências geralmente não se restringem ao plano individual, chegando a afetar imensos contingentes de seres humanos no mundo inteiro. O exemplo clássico, tido como protótipo da intolerância discriminatória, é o holocausto do povo judeu, friamente levado a efeito pelos nazistas sob a mais sem sentido das desculpas – a da pureza da raça. Mas a História também da conta de imemoráveis atrocidades perpetradas sadicamente em nome de Deus, do bem e da liberdade.
Em todos os tempos, e em todas as parte onde ocorreram as alegações dos agressores apenas tentavam dissimular seu verdadeiro fundamento: preconceito, prepotência e ódio cego, inveja avassaladora ou a mais perigosa ignorância – a de quem pensa que sabe. Interpretações literais e, portanto superficiais, de Escrituras Sagradas, ou de teorias científicas mal formuladas, justificadoras de diferenças demoníacas ou biológicas entre os seres humanos, têm oferecido subsídios para alegada supremacia de alguns privilegiados, em prejuízos de incontáveis e indefesos inocentes.
Mas a intolerância humana tem muitas caras. Intolerância,prepotência, expansionismo, superstição, chauvinismo, fascismo, nazismo são alguns dos fenômenos dos detonadores da caça-intransigência com índios, negros, “ bruxas”, judeus , “infiéis”, homossexuais, etc. Esses grupos têm sido sistematicamente perseguidos ou explorados, excluídos socialmente, confinados a guetos sub-humanos condições de vida, quando não violentamente torturados e massacrados, com a conivência daqueles a quem a situação aproveita.
No Brasil, o colonizador fez sua parte com extrema competência a pretexto de salvar almas, escravizou, explorou autóctones; a pretexto de uma infundada superioridade biológica – dissimuladora do fundamento econômico que o movia praticar, acorrentou, açoitou e violentou barbaramente mulheres e homens negros. A barbárie é universal e parece estar adormecida nas entranhas da alma humana passível de ser despertada a qualquer sobressaltos.
A incursão legal brasileira contra a discriminação é recente, limitada e ineficaz. Os aplicadores ainda patinam numa nação claudicante de cidadania atrelados que estamos a um saber ideológico que privilegia o argumento do opressor, aquele que não pertence as chamadas minorias, um, que na verdade constituem a maioria da população, um imenso contigente de deficientes cívicos.
Em suma, o cidadão no Brasil, do mundo ocidental é preferencialmente o homem branco, rico, culto e heterossexual. A tragicomédia maior é a capacidade de pactuar dos próprios oprimidos, seja por interesse, covardia, ignorância, ou por introjeção inconsciente do preconceito. As vitimas, desconhecendo sua própria força e muitas vezes nem mesmo se reconhecendo como tal, passam a participar do processo.